Meu amigo Tic Tac

 

Domingo, 18:15h, igreja lotada. O culto já começou. Procuro um lugarzinho para sentar-me. Acomodo-me no banco, cumprimento os meus irmãos vizinhos de banco com um discreto olhar e sorriso. É muito chato chegar atrasada no culto. Coloco minha Bíblia no suporte do banco e também minha caixinha de Tic Tac ( aquelas pastilhas de menta). O barulho da caixinha com as balas atrai um garotinho de uns cinco anos de idade que está no banco da frente. Ele me observa com seu negro olhar. Tento disfarçar,  mas ele continua a me observar. Eu sorrio, ofereço-lhe a caixinha. Ele sorri com dentinhos brancos de leite, olha para a mãe, em busca de aprovação. A mãe confirma. Ele pega duas balinhas e me devolve a caixinha.  Ele põe a balinha ardida na boca e acho que gosta da sensação de frescor. Sossega no banco o tempo suficiente para acabar a balinha. Novamente ele se vira e fica me fitando. Eu sabendo o que quer, ofereço-lhe a caixinha. A mãe diz  a ele baixinho que são as últimas balinhas que deve pegar. Ele chupa as balinhas. Mais alguns segundos e lá está ele novamente a me olhar. Olharzinho límpido, de criança. Como é gostoso esse olhar. Nem me importo com as balas. E assim a cena se repete até quase esvaziar a caixinha de tic tac e o culto terminar.

Ele ficou meu amigo. O culto termina e nos cumprimentamos vigorosamente. É gostoso dar um abraço em uma criança. A mãe se desculpa. Mas não tem o que se desculpar. A gente tem mesmo é que aprender com esses pequeninos.

Vou para casa feliz, pensando no meu novo amigo... hummm... esqueci de perguntar o nome dele, por isso, vou chamá-lo de Tic Tac.

Uma semana se passou e lá estou eu novamente no culto no domingo. Esse domingo cheguei no horário e peguei meu lugarzinho habitual. Estava com os meus olhos fechados, orando, quando senti um cutucão no  meu braço. Abri meus olhos e  deparei-me com o Tic Tac. Ele não se esqueceu de  mim. Fiquei feliz e triste, porque nesse domingo não levei as pastilhas. Ele me deu um grande sorriso,  um belo aperto de mão e se foi.

Isso me emocionou.

Crianças são assim.

Elas não se intimidam em sair do seu lugar e vir falar com a gente e nem precisa do pessoal de música fazer o apelo. Elas vêm porque querem. Porque não tem medo de desenvolver uma amizade.

Um Tic Tic, uma coisa tão simples que uma criança deixou feliz. É... Criança se alegra com coisas simples e com gestos simples manifestam gratidão. Fico pensando que Deus quer que aprendamos isso. Que tenhamos um coração grato por todas as coisas que Ele fez por nós, não somente as coisas grandes, mas as pequenas também.

 

Talvez o nosso modo de pensar adulto argumente assim: - Mas que menino interesseiro! Aproximou-se só por causa das balas.

Bom... pode até ser verdade,  mas cá para nós, quantas vezes nos aproximamos de Deus só para pedir. Na verdade, Deus quer nos dar o melhor. E por isso a gente vive fazendo feito o Tic Tac.

Mas... o legal do Tic Tac era o sorriso que ele me dava, aquele olharzinho gostoso de gratidão. E isso me fez muito bem.

Acho que Deus quer isso de nós. Esse sorriso de gratidão. Essa valorização, esse contato, essa amizade.

Amizade que passa uma semana e não esquece.

Eu confesso,  já tinha até esquecido do meu amiguinho Tic Tac,  mas ele não se esqueceu de mim e foi falar comigo.

É por isso que a Bíblia fala: Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o reino de Deus pertence aos que são  semelhantes a elas. Mc. 10:14b

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