Qual
de vocês, se o seu filho pedir pão, lhes dará pedra? Ou se pedir peixe lhe
dará uma cobra? Mateus 7:9
1) O Manual de
Instrução
Já
ouvi várias mamães falarem assim: - Seria tão bom se quando a gente ganhasse
um filho já viesse com um manual de instruções bem prático. Com soluções
para todas as situações. Tal problema abra na página tal. Pronto. Siga as
instruções e problema solucionado.
A
boa noticia é que esse manual já existe. E aposto que você tem um deles em
sua casa, pois é a Bíblia Sagrada. A má notícia é que muitos esquecem de
consultar esse manual tão precioso.
Como
educadora que sou e por me envolver tanto nesse mundo infanto-juvenil, sinto-me
frustrada e com o coração apertado diante de tanta coisa que a gente vê, ouve
e percebe.
Além
de educadora, também sou mãe de dois meninos, que atualmente
estão com 12 e 10 anos. Eles são o meu termômetro para saber se estou
no caminho certo ou não. Confesso
que errei várias vezes. Pisei na bola, no tomate, na jaca e tudo o que tinha
pelo caminho, afinal de contas não é fácil educar filhos, mas uma coisa posso
te garantir: eu procurei ouvir a voz do Espírito Santo nessa árdua missão de
muitos erros e poucos acertos.
Porém,
o que mais me indigna e me deixa triste é que muitos pais nem querem sequer
saber de errar ou acertar, tem confiado à educação de seus filhos para
escola, entidades religiosas, internet e até rede Globo. E isso tem prejudicado
o futuro de nossos filhos, pois temos visto nossas crianças e jovens recebendo
cobras e pedras, ao invés de pães e peixes. Educação é missão da família.
Confesso que ontem fiquei com esse versículo na mente. Fiquei meditando, meditando e senti-me impulsionada a escrever e compartilhar experiências minhas e quem sabe tentar reverter um pouquinho esse caos educacional. Sei que sou uma voz quase solitária, pois tantas pedagogias têm surgido por aí, mas quero lembrar algo básico, óbvio e fundamental, mas que faz a diferença. Dê ao seu filho pão e peixe! Isso o fará crescer forte e nutrido.
2) Os quatro
elementos
É
um dos alimentos mais antigos. É nutritivo, gostoso e mata a fome.
Li
numa matéria sobre saúde que o pão
contém três macros nutrientes essenciais – carboidratos, proteínas e lipídios,
indispensáveis ao bom funcionamento do organismo. O produto é fonte de
vitaminas do tipo B (tiamina B1, riboflavina B2 e ácido nicotínico-B5), cálcio,
magnésio e fósforo. Puxa... quanta coisa tem no pão que nem sabia.
O
potencial nutricional do peixe é inquestionável, pois reúnem várias fontes
importantes para o organismo humano como proteínas, cálcio, Omega 3 e Omega 6.
Infelizmente o peixe não é muito consumido aqui no Brasil, por conta do seu
preço, mas ele é bem riquinho nutricionalmente falando.
Não
é comestível, não é nutritiva. É algo inanimado. É fria. É dura. Não sei
muito que dizer, pois não sou geóloga, mas penso que não seja um bom
presente.
Também
não é comestível. Tem veneno. É perigosa.
Não sei também muito que dizer sobre a cobra, pois não sou bióloga,
mas realmente penso que também não seja um bom presente por ser algo meio
perigoso.
3) Pão ou
pedra I
Quando
meus filhos eram pequenos. O menorzinho devia ter uns 2 anos e o maior uns 3
anos e meio. Eles se atracaram na casa de minha mãe. Armaram o maior barraco.
Acho que isso não é novidade para ninguém. Quem tem filhos sabe do que estou
falando. Nessas horas, o sangue de mãe sobe lá nas maiores alturas. Não
adianta, que a gente fica irritada, nervosa e tudo mais. Uh... contei até 10,
levei-os ao banheiro da minha mãe, já
com o chinelão em punho. Mas... pensei melhor e falei: “- Em casa a gente
conversa melhor sobre isso!” Estava nervosa demais. Cheguei em casa, levei-os
até a horta, solzinho gostoso. Já estava calminha, mas conforme o prometido,
conversei com eles sobre o ocorrido. Preparei uma vara, e falei que iria
corrigi-los. Foram cinco varadas em cada um. Eles choraram, pois doeu. Depois
conversei novamente. Orei com eles. E foi algo muito marcante. O tempo passou e
nunca mais precisei fazer isso com
eles, pois sempre que eu avistava foco de alguma
briga ou desobediência eu falava assim: “-
Será que vamos precisar ter outra
conversa séria como aquele dia lá na horta?” Prontinho! A paz reinava novamente.
Eu
penso que eu dei pão para eles nessa situação, pois foi um momento em que
eles foram nutridos de que existe um limite, existe educação, existe
autoridade. Seria pedra, se eu tivesse os pegado, dado uma surra com raiva e nem
explicado o porquê. Houve o preparo da massa. Houve o processo de cozimento.
Houve crescimento. E o mais legal, dia desses o menorzinho estava assistindo a
Super Nany no SBT e comentou
comigo:
-
Puxa... se esses pais tivessem uma conversinha na horta como naquele dia poderia
evitar todo esse sofrimento né, mãe? Você é a melhor mãe do mundo. Bom...
senti-me muito feliz... não traumatizei o meu filho, pelo contrário, ele
reconheceu que precisava de limites.
4) Pão ou pedra
II
Dia
de chuva, vidro embaçado, você nunca sabe que botão aperta para desembaçar
os vidros, a flanela nunca está onde deveria estar, trânsito pesado, meninos
batendo boca no carro. Você acaba de levar uma fechada e eles nem se tocam,
continuam a reclamar, etc. O sangue sobe, dessa vez você não conta até três.
Simplesmente, enfia um safanão no primeiro que está na frente. E ufa... Raiva
descarregada. Que gostoso! Já viu esse filme? Aconteceu comigo. Já
fiz isso, viu? Dois minutos depois, a luz vermelha da consciência apita. Mas o
orgulho fala mais alto. É melhor não
dizer nada. Afinal agora eles estão
tão caladinhos, com os olhos arregalados e amedrontados.
Depois eles esquecem! Eu não posso me humilhar e pedir perdão. Afinal
eu estava nervosa, etc. etc. etc. Se eu ficar me justificando e deixar a coisa
toda passar, não é por nada não, mas estou dando pedra para os meus filhos.
Mas se eu pedir perdão para ele do meu gesto inconseqüente eu estou
dando pão. E foi o que fiz. Ao chegar em casa, sentei com os dois e pedi perdão
pelo meu ato, abracei-os, disse que os amava... Enfim... Tirei-lhes da alma a
atitude gélida de pedra e os nutri com o pão do perdão. Devemos pedir perdão
para os nossos filhos, não somos melhores que eles.
Na verdade foram situações que me vêm à mente, que talvez Deus queira que eu compartilhe com você. São coisas básicas que a sociedade tem trocado o olho no olho, a conversa, o perdão por bonecas e carrinhos (materialismo – pedra) simplesmente para justificar a consciência pesada do erro de deixá-los amedrontados e solitários com seus problemas e dilemas.
5) Peixe ou Cobra
I
Nas
aulas de informática, sempre eu faço uma explanação do tema ao qual darei
aula. Ensino alguns comandos, dou uma atividade relacionada ao tema para eles
fazerem e também dou um desafio, através de algum joguinho específico (tipo
tangram, caixas, sokoban, tabuada, etc). Tudo isso, leva em torno de 40 a
45 minutos para ser concluído. A aula tem 50 minutos, então sobra uns 5
a 10 minutos de momento livre. É claro que eles reclamam demais para fazer o
desafio, pois é algo que vai levá-los a pensar e pensar gasta tempo, mas eu
fico os motivando, dizendo: - Vamos lá, gente... vocês conseguem! Vamos...
gente boa do meu Brasil!!!! (jargões de informática)
Eu não páro sentada. Estou sempre circulando. Dia desses, um deles me
olhou com um olharzinho pidão e disse: - professora Lina! Na semana da criança
você vai deixar aula livre, né? Puxa... Estamos em abril, a semana da criança
é outubro. Ele tem expectativa. Que maravilha! Que ótimo que estou dando peixe
para ele.
Já
imaginou se a aula fosse diferente? Que todas as aulas todos pudessem fazer o
que bem entendessem no computador e na semana na criança eu desse aula
atividade? Captou a mensagem?
Os
nossos filhos precisam batalhar por aquilo que querem. Necessitam de ter esperança
de alguma coisa. Às vezes, por comodismo damos tudo o que eles pedem, mas nem
sempre o que pedem é saudável para eles.
Às
vezes, na hora do desafio eles reclamam tanto, porque pensar dói, que eu até
penso em pular essa parte, porque é desgastante. Só que quando conseguem fazer a fase solicitada
e eu os libero para parar, e ter seu momento livre. Muitos deles querem
continuar. E eu não os proíbo. E eles gritam, ficam felizes. É uma festa.
Eles venceram obstáculos. Isso é saudável. Muitas vezes termina a aula e eles
nem brincaram ou navegaram e daí é outra briga, porque não querem sair do
laboratório de informática. Mas o começo foi difícil. Tivemos que tirar o
espinho do peixe.
Muitas
vezes queremos poupar nossos filhos dos obstáculos. Tomamos as dores deles,
poupamo-os de “sofrer”. Estamos damos cobras para eles, pois eles estarão
sendo envenenados pela preguiça, pelo ócio, pelo comodismo. E infelizmente
tenho visto muito disso com os nossos adolescentes.
Ainda sobre laboratório de informática... eu tenho conversado com alguns ex-alunos meus e perguntado sobre as aulas de informática em outras escolas. Alguns respondem: - Não temos aulas de informática! Outros são jogados num super-laboratório cheio de recursos, mas sem direção alguma, onde eles fazem o que bem entendem. E é assim com os nossos jovens, muitas vezes são jogados em meio a esse mundão tecnológico, sem direção alguma.
6) Peixe ou cobra
II
Os meus filhos, infelizmente puxaram a mãe. São viciados em internet e computadores. Tem hora que a gente tem que pegar a senha para usar o computador, e olha que são dois computadores, mas nem assim é o suficiente. Dia desses, eles ficaram muito tempo na net. Era um domingo à noite e eles nem tinham feito as tarefas, nem arrumado o material escolar. Eu fiquei muito irritada com a desorganização. Bom... Eles precisavam de uma correção. Taí, uma semana sem computador para o mais novo que cometeu faltas mais graves como não fazer a lição. Já o mais velho, que estava em dia com as lições e as notas, eu decidi por um limite. Uma hora por dia, durante os dias de semana. Já aos finais, estaríamos abertos à negociação. Foi legal, porque ele mesmo controlou o horário. Confio na integridade dele, porque quando passa o tempo determinado e ele precisa ainda ver o flog ou o orkut dele, ele vem e me pede: - mãe, me dá mais 5 minutos para ver se alguém me mandou recados ou comentou no meu flog? Dias desses, ele comentou comigo: - Sabe mãe... eu gostei desse castigo, porque eu estou tendo mais tempo para outras coisas, como brincar, estudar e etc. Fiquei feliz, porque dei peixe para ele. Se ele continuasse naquela neura de internet, estaria dando cobra, pois com certeza estaria envenenando a alma dele com tanta coisa que a net nos oferece. Embora eu esteja plugada com eles e não abro mão disso e sei por onde eles têm navegado. Não quero proibir, mas quero que eles percebam que o nosso mundo é bem maior que uma tela de computador ou de TV. Eu ainda estou na batalha com o lance na net, volta e meia eles esquecem os limites, mas estou aqui para lembrá-los.
7)
Uma
vez, uma professora de meu filho mais novo, pediu para os alunos lerem um determinado livro, muito lindo
por sinal, mas um pouco “pesado” para idade escolar dele. Eu confesso que
sou uma devoradora de livros, tanto é que sou formada em letras com especialização
em literatura. A princípio, fiquei
revoltada. Onde já se viu? Um livro desses pode bloquear a criança quanto ao
gosto por literatura. Eu ia reclamar com a professora. Tomar a dor do meu filho
e chamar a professora de malvada e tudo mais. Mas... pensar e ponderar faz bem
nesses casos. Optei por outro caminho. Consegui
o tal livro, que tinha umas
100 páginas divididas em 10 capítulos. Iria ler o livro em voz alta com o meu
filho. Lemos em 5 dias os 10 capítulos.
Foram 5 noites bem legais, pois ele mesmo ansiava por esse momento. Ele amou o
livro, pois pude ler pausadamente, explicar e até fazer suspense. Foi bem
legal.
Tornou-se algo prazeroso. Sabe... é trabalhoso dar peixe para crianças, pois tem espinhos. A gente tem que tomar cuidado... mas é muito bom... Eles gostam de peixe. Só que o que temos visto muito hoje em dia são pais tomando a dor dos seus filhos, envenenando suas mentes, falando mal de professores. Que dão muita lição, que não concorda com isso ou aquilo. Eu mesmo me senti assim quando meu filho veio com o livro para ler, mas percebi que era necessário uma parceria, uma aliança entre pais e professores. Infelizmente peixe dá trabalho para a gente dar e é caro. Infelizmente temos visto o contrario. São pais dando cobras para seus filhos. Os filhos sempre vão reclamar mesmo. Os meus dois sempre reclamam e logo dá aquele ímpeto de ir à escola e tomar as dores dos nossos filhos. Mas seria essa a solução correta? E se você for parceira do seu filho na educação? Amenizar a sua dor estando com ele. É isso que ele clama de você. Só que você não entende o seu clamor.
8) Ufa... vamos
concluir finalmente.
Às
vezes interpretamos mal os anseios dos nossos filhos e sem querer damos-lhes
cobra. Eu sei que não é por mal, porque somos encurralados pela sociedade para
proceder assim. Uma sociedade liberal, que não impõe limites. Uma mídia que
troca o pão quentinho do carinho, do afeto, do diálogo pelas pedras frias do
consumismo, dos presentes. É muito bom dar presentes para os nossos filhos, mas
vamos dar em primeiro lugar o pão, e as demais coisas vão fluir naturalmente.
Vamos dar peixe, é trabalhoso ter que tirar todo aquele espinho para ele não
engasgar, mas vale a pena. Sabe... a cobra é algo muito perigoso. Talvez eu
tenha falado mais na cobra, porque é algo que realmente tem refletido
por aí através de jornais, depoimentos, etc. Filhos que matam pais, filhos que
roubam, filhos que enganam, filhos envenenados pelas drogas, filhos que
envenenam. Provavelmente isso aconteceu porque um dia eles não receberam o
peixe que é nutritivo, mas receberam a cobra e aprenderam com ela muitas
coisas. Puxa... Fico arrepiada em escrever isso e perceber a sabedoria da Jesus
dizendo:
Qual de vocês,
se o seu filho pedir pão, lhes dará pedra? Ou se pedir peixe lhe dará uma
cobra? Mateus 7:9
Tudo
isso ocorre porque um dia interpretamos errado o pedido da criança e do adolescente:
O
exterior deles dizia: - Deixe-me em paz! Quero ser livre para fazer
o que eu bem entender. Não quero limites.
Mas
o clamor do coração era: - Estou aqui, me ame! Eduque-me! Quero limites.
Ouça
o clamor interno do seu filho e dê-lhe pão. Dê a educação essencial, não
outorgue isso a outros – como a mídia, a escola, a igreja, a sociedade, a
FEBEM. O máximo que você pode fazer é ter uma parceria.
Ouça
o clamor interno do seu filho e dê-lhe o peixe. Participe com ele da sua vida.
Nutra-o com amor, com coisas saudáveis.
Em
Cristo
Lina - Aurelina Silveira Ramos
(autora)
21/04/2006
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