Quando eu era menina,
minha casa parecia um albergue. Papai, um bom baiano, sempre acolhia um
parente necessitado da Bahia, o qual trabalhava por um período até se
“firmar” e depois tocava sua vida. Eu contabilizei uns oito primos (as)
que moraram com a gente por um determinado período. O Valdo era o mais
palhaço e um dia, durante o almoço soltou uma das suas graças:
- Por que baiano tem
cabeça chata?
Meneávamos a cabeça e
esperávamos uma resposta infame e lá vinha ela.
- É que “mainha”, todos
os dias, ao ver o filho comendo o prato de pirão de farinha, dá uns
tapinhas em sua cabeça e diz: - Come tudo “fiim”, que quando você
crescer vai pra “Sumpaulo”.
Hoje, o pessoal
politicamente correto ao ouvir essa piadinha, iria rotulá-la de
xenofóbica e preconceituosa. Na verdade, essa piadinha está
desatualizada. São Paulo não é mais o eldorado nordestino, tanto é que
atualmente ocorre um processo inverso: muitos filhos de nordestinos
retornam às origens , pois determinadas cidades estão mais avançadas
e promissoras do que essa Sampa saturada.
Dia desses, meu filho
voltava da escola no trem, quando ouviu uma mãe dizer ao seu filho:
- Viu, filhinho como é
bom ir à escola. Você ganha merenda, material escolar, uniforme. Você
ganha tudo.
Duas mães. A mãe do
passado e a mãe do presente.
Sinto saudades dessa
primeira mãe do passado, que incentivava seu filho. Dava-lhe o “pirão
com farinha” que era o que tinha. E o menino tinha que comer, pois
tinha uma promessa em cima disso: ir para São Paulo. Ele sabia que São
Paulo não era lazer, mas era cidade do trabalho, do compromisso, da
dedicação, da ascensão social, era um local de oportunidade de estudar e
ser alguém na vida. A mãe ensinava para o filho tudo isso. A mãe
ensinava o menino a pagar o preço, ou seja, a dar – dar o seu melhor
para que a sociedade fosse beneficiada com o seu ato.
E o menino, que em meio
às agruras e as dificuldades foi desafiado a ter sonhos, ter alvos de
ser alguém melhor. Esse menino que teve uma mãe que o impulsionava para
o sonho de ser alguém na vida. Sinto saudades desse menino e dessa mãe
que eram focados em sua meta.
A segunda mãe é a mais
comum nos dias de hoje. O menino precisa ser feliz ganhando. Não quer
que o filho passe pelas privações que ela passou. Protege o seu rebento
dando-lhe de tudo o que necessita. O menino nem precisa estudar, basta
comparecer a escola, que ganhará a merenda, o material escolar e até
mesmo notas. Ele não precisa se comprometer com os estudos, com a
educação. Para que se comprometer com o ensino? Escola é chata
demais. E se o filho for contrariado, ela mesma vai a escola exigir os
seus direitos.
E assim os meninos vão
sonhando em receber, receber e receber. Receber um convite para jogar
futebol - quem precisa de escola para jogar bola? Receber um convite
para entrar no BBB e ser modelo, ou vice-e-versa, pois quanto mais você
matar a educação em sua aparição midiática, mais sucesso você terá.
E até os meninos ricos
vão sonhando em receber, receber, receber. Receber presentes, IPads,
celulares de última geração, tênis de marcas. Tem hora que não tem nem o
que dar, pois já tem de tudo, exceto limites. E nessa hora, talvez se
contentem em aprontar alguma atrocidade na av. Paulista ou na escola
através do bullyng ou no seu computador através do cyberbullyng.
Ah... como eu queria
que os pais ensinassem aos seus filhos sobre o dar, o compartilhar. Acho
que o pior pecado da humanidade é o EGOísmo, ou seja, o EGO dominando
suas vidas. E esses meninos que ganham, ganham, ganham, importam-se
mesmo consigo mesmos e pouco se importam com os estão ao seu redor, ou
seja, a sociedade.
O ato de compartilhar
promove a salvação da humanidade e nos deixa menos mesquinhos. Então,
que tal começarmos a ensinar esses meninos e meninos a compartilhar algo
bom. Eu posso garantir que eles serão muito mais felizes dando,
produzindo algo legal, do que apenas recebendo.
autora: Aurelina Silveira Ramos - Lina Linólica
e-mail - linolica@yahoo.com.br
É muito triste ver um artigo escrito pela gente em outra site, como autor desconhecido... por favor, mantenha os créditos!
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