EDUCAR NA CULTURA DIGITAL
Esse texto está tão extenso e com
advento twitter de 140 caracteres, textos extensos estão em desuso, mas
precisava escrever tudo isso. Sorry!!!!
Domingo, pela manhã, igreja lotada. Ao meu lado está
uma família. O pai, a mãe e o filho de uns 3 anos. Em determinado momento, o
garoto pega um dos celulares do pai, ou talvez dele próprio e começa a jogar um
joguinho daqueles barulhentos. Alguns olham para trás como se dissessem: - Põe
um fone no garoto ou abaixa o volume! Isso incomoda! Eu mesma quase falei,
diante daqueles –crash, brummm, trash, mas ponderei e tentei me concentrar na
mensagem que estava sendo ministrada.
Será que os pais não perceberam que o menino estava incomodando? Eu tenho até
algumas conjecturas sobre os pais:
1) “To nem aí, to nem aí! O filho é meu, eu paguei o
celular e os incomodados que se mudem.”
Tenho saudades da época em que as pessoas eram menos egoístas e se preocupavam
mais com o próximo. O grande mal dessa sociedade é pensar sempre em si, no
individualismo e isso não trás alegria alguma. O ser humano tem perdido essa
capacidade de pensar na ética, no amor, no próximo. Lembro que na antiga escola
onde trabalhei, a senha para entrar no computador era AMOR. Era proposital, os
maiores achavam meio piegas, mas os pequenos logo aprendiam que para entrar
naqueles computadores precisavam dessa digitar essa senha. Na escola atual não
tem mais isso, mas continuo com o enfoque de que é importante promover um
ambiente colaborativo e com ética, pois a internet é uma rede de pessoas.
2) Nem vou pedir para ele parar com o jogo, pelo menos
está quietinho e concentrado. Se eu mexer com ele, com certeza vai abrir um
berreiro.
Limites. Muitos pais tem medo de impor limites nos seus filhos enquanto pequenos
porque eles vencem pelo choro e pelo cansaço. Eu sinto em dizer-lhes, vocês
lutarão sempre com essa criança, com essa adolescente, com esse jovem, com esse
adulto. Eu vejo que pais que impõe limites de verdade em filhos pequenos, nem se
desgastam tanto na adolescência ou juventude. Eu afirmo isso pelos meus filhos.
Quando eles eram pequenos ensinava com firmeza até onde podiam chegar. Era
carinhosa, porém não cedia em hipótese alguma a birras e coisas do gênero. Foi
cansativo no começo, desgastante, mas deu certo. Eles aprenderam e não tive
problemas na adolescência. Colho bons frutos hoje na juventude deles.
3) Ele precisa desenvolver suas habilidades
tecnológicas. Não vou podá-lo agora, pois quem sabe será o futuro Mark
Zuckerberg.
Eu ensino cultura digital desde 1999 e infelizmente não me deparei com nenhum
geniozinho da informática. São crianças normais com dúvidas e dificuldades. Tive
alunos brilhantes, talvez uns 10% apenas do grupo, mas os outros 90% tiveram
dúvidas, tiveram dificuldades em aprender determinados comandos, tiveram
problemas com compartilhar informação, tiveram preguiça de pensar. Inclusive
volta e meia sou questionada por algum pai sobre o 7,0 ou 8,0 na informática, já
que seu menino é bom pra caramba em casa com computadores. Eu só passo afirmar
que na minha matéria ele é perfeitamente normal e com algumas deficiências e
isso justifica sua nota.
4) Que lindo!!! Essa geração já nasce sabendo tudo a
respeito de tecnologia!
Essa é uma falácia. Eu ouço as pessoas constantemente dizerem isso o tempo todo
e todo mundo acredita. Talvez o menino aperte um monte de botões, dá certo e ele
repita a operação, mas não significa que ele é um gênio na tecnologia e não
precisa de ensino. Os aplicativos tecnológicos são intuitivos e qualquer um pode
usá-lo. Tecnologia é fácil aprender o difícil é atrelar-se a valores.
Recentemente participei de palestras com Rodrigo Nejm, diretor da Safernet e
cheguei a seguinte conclusão "Imagine uma linda praça pública. A praça, em si,
não é perigosa, mas pode ter locais ermos ou iluminados. Agora imagine com 2
bilhões de pessoas nela. Uma diversidade incrível de pensamentos - pessoas de
boa índole, pessoas de má índole. Você deixaria seu filho pequeno sozinho nessa
praça? Bem vindo ao cyberespaço!!!" Talvez você pense: - é apenas um
celularzinho... É simples vá com ele a essa praça. Não o proíba de ir, mas vá
com ele. Oriente-lhe bons lugares para brincar. Brinque com ele. Estreite esses
elos. Ensine-lhe um caminho bom. Desde que o mundo é mundo os pais devem ensinar
o certo e o errado. O que é perigoso e o que não é. Talvez os pais não enxerguem
esse perigo, pois se apropriou desse pensamento: “Essa geração já nasce sabendo
tudo a respeito de tecnologia!” e em sua mente logo vem a justificação: “Se
sabem tudo, não tem o que lhes ensinar”. Tem muito a lhes ensinar sim. E são
valores. São valores que a nossa sociedade digital precisa. Talvez você não veja
o perigo, afinal ele está tão seguro dentro de casa... mas lembre-se é uma praça
com 2 bilhões de pessoas nela.
A escola, por sua vez, diz: “Essa geração já nasce sabendo tudo a respeito de
tecnologia!”, em sua mente logo vem a justificação: “Se sabem tudo, não tem o
que lhes ensinar” Fechemos os laboratórios de informática, excluamos a
informática educativa da grade. Mas a escola pode ensinar sim, valores, perigos
da rede, ensiná-los a criar bons conteúdos (coisa rara bons conteúdos
brasileiros) e também a navegar em bons conteúdos (coisa rara ver meninos
navegando bons conteúdos, basta ver nos acessos do youtube a quantidade pequena
de visitas a bons vídeos). O fato é que as baixarias tem bilhões de acesso e não
me refiro à pornografia, mas a vídeos que nada acrescentam. Sempre que ensino
informática educativa desenvolvo uma página de atividades com links, imagens e
tenho o objetivo que o aluno leve a escola para casa involuntariamente. Esse é o
meu propósito, orientar e o induzir que navegue em águas puras, que cresça a
cada dia no cyberespaço... pena que é um trabalho tão pouco valorizado, tão
pouco difundido.
Recentemente o Safernet escolheu 10 cidades brasileiras para ministrar sobre
Segurança na Rede. Eu não posso dizer qual foi a repercussão nas outras 9
cidades, mas posso relatar sobre Osasco, pois estava lá. Em um grande auditório
com capacidade para mais de 1000 pessoas, tinha umas 30 pessoas. É isso mesmo,
umas 30 pessoas. Você pode perguntar talvez o valor da palestra fosse muito
alto. Foi um evento gratuito. Talvez o preletor fosse algum amador qualquer...
nada menos que Rodrigo Nejm, diretor da Safernet, o qual tem propriedade paixão
por aquilo que faz e disponibilizou um material muito rico sobre o assunto.
Novamente volto a frisar que temas como esse relacionado à educação digital
ainda é pouco valorizado, promovido e difundido.
Eu uso a internet desde 1999 em conjunto com minha família. Na época, meus
meninos tinham 5 e 4 anos. Nunca me preocupei em por filtros aqui em casa, mas
sempre ensinei aos dois um bom caminho e é claro, fiquei vigilante. Jogamos
muito nesse período, navegamos juntos. Eles cresceram nesse ambiente de web.
Viram a transição da web 1.0 para web 2.0. Nunca os proibi de nada, apenas
ensinei-lhes o certo e o errado (perigos). Quando menores, algumas vezes tive
que estabelecer horários, mas foram raras as situações. Dei-lhes alternativas
como livros, mas também os levei-os a grandes eventos de tecnologia como a
Campus Party. Tinha a esperança que daqui saísse um grande profissional de TI,
mas eles optaram em fazer suas escolhas. O mais velho hoje, com 18 anos, cursa
engenharia química na Poli (USP) e o menor, com 16 anos está concluindo o ensino
médio. Mas o ensinamento principal foi simplesmente ensinar valores, ética e
fazer com que explorassem o lado bom da internet, ou seja, o do conhecimento e é
claro, o lazer também. Da mesma forma tenho feito isso com meus alunos e isso é
ensino na cultura digital.
Pronto, falei, ou melhor, escrevi!!!
Lina Linólica / Aurelina Silveira Ramos
maio/2012
Estou preparando planos de cursos para pais e educadores com atividades práticas
sobre o educar na cultura digital. Tenho o desejo de fazer pequenos grupos e
compartilhar um pouco desse conhecimento adquirido ao longo desses 13 anos. Caso
queira mais informações é só me mandar um e-mail:
linolica@gmail.com.
Índice Artigos Estante Virtual Página Inicial